quinta-feira, 3 de julho de 2014

AÍ COMO EU TINHA SAUDADES DESTE MEU...CANTINHO :)
Estou a viver nos Açores, na ilha dos meus sonhos de adolescente - O FAIAL!. Há 28 meses.

Por aqui tudo cheia a natureza, pureza, delicadeza e outras inenarrávies "ezas" de fim feliz :)

Aqui cada toque, cada cheiro, cada vislumbre cheira a magia.

Quando eu era pequena e tinha assim... muitas, muitas saudades do Faial, punha a orelha num búzio enorme que tinha em casa, para ouvir o mar
e ouvia esta Ilha a chamar-me!!!

Tenho 45 anos e desde muito pequena que sinto, assim, esta ilha! Sempre quis  viver aqui mas a minha mãe nunca o permitiu porque, sendo de cá, tinha "sede" de acessos : à informação, à moda, à politica nacional e internacional, etc, coisa que não tinha enquanto aqui cresceu...

Ela, a minha mãe, nasceu nesta ilha do Faial e aqui viveu até aos seus 18 anos, altura em que foi, com o meu pai e com a sua irmã, para Lisboa.

Aí concretizou, ou melhor, deve ter concretizado - imagino eu - algum sonho (de liberdade) que tinha...Mas se hoje em dia eu lhe perguntar quais foram os seus "achivements", ela muda de assunto...

Eu nunca quis ser como a minha mãe e, ao contrario da maioria das crianças que até são capazes de dedicar versos às suas mães, a minha nunca foi inspiradora... E, pior: se eu tentar lembrar-me de algum momento divertido com a minha mãe...não aparece nada, nem um sorriso...nada !!!

Não quero que o meu filho sinta isto sobre mim quando tiver mais uns anos!!!

Bom , na verdade, todos estas lembranças foram desencadeadas por uma simples imagem do Jardim do Príncipe Real, em Lisboa, cidade onde jurei nunca mais voltar...





Jardim do Principe Real, Praça da Alegria, Bairro Alto, Cais do Sodré...deu-me, de repente uma saudade louca! Mas depois penso: não é do sitio que tenho saudades: é de como vivi e senti esse sitio na altura que lá estava...

No entanto não nego que hoje revisitaria todos esses lugares com calma e descontracção porque, com toda a certeza que veria a cidade de Lisboa com outros "olhos"...!


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cântico Negro

Relembrando...José Régio in "Cântico Negro"

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Os Ciganos

Os Ciganos é um conto inédito de Sophia de Mello Breyner Andresen localizado no seu espólio na primavera de 2009. Este conto encontrava-se inacabado, tendo Pedro Sousa Tavares, jornalista e neto da escritora, assumido a responsabilidade de continuar uma história sobre o irresistível apelo da liberdade, sobre a atração pelo que está fora dos muros e pela descoberta do outro e suas diferenças.
Ruy é um rapaz que vive numa casa que não lhe parece ser sua. Há muitas regras, muitas rotinas, tantas que nem mesmo o jardim que rodeia a casa consegue ser suficientemente grande para que se sinta livre.
Contudo, num daqueles dias de primavera que caem lentamente ao som do baloiçar das folhas, Ruy é surpreendido pelo rataplã de um tambor que o desafia a saltar o muro do jardim e a percorrer os campos até se abeirar de um acampamento de ciganos. Com eles acaba por ficar e, inspirado pelo espírito indomado de Gela, uma rapariga cigana de olhos cor de avelã, vai descobrir o prazer de sentir o chão debaixo dos pés, enfim, vai experimentar a liberdade pela qual sempre suspirou.

Para miúdos e graúdos: a não perder!

Ao meu filho Gonçalo :)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

De génio e de louco...




"Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E não respeitam o status quo. Podemos citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que não podemos fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as  pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam"


- Jack Kerouac -

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

"DING AN SICH" ou outra coisa qualquer...

Segundo Kant nós fazemos parte de, em vez de percebermos a realidade. Ele afirmou que todos os nossos sentidos são filtrados pelo sistema nervoso, que nos fornece um retrato do que chamamos realidade. Na verdade, essa realidade não passa de uma quimera, uma ficção que surge dos conceitos e catalogações feitos pela mente. Conceitos são também a causa e o efeito, sequência, quantidade, espaço e tempo; são construções e não entidades, isto é, coisas ou factos que possam existir , na natureza.

Além disso, não podemos ver uma versão do que está, não temos como saber o que está realmente lá, ou seja, o que existe antes do nosso processo perceptivo e conceitual. Essa primeira entidade, que em alemão Kant chama de ding an sich (a coisa em si), está e precisa de estar para sempre desconhecida por nós.

Embora, por seu turno, Schopenhauer concorde que não podemos conhecer a coisa em si, acredita que podemos chegar mais perto dela do que acha Kant. E que Kant menosprezou uma grande fonte de informação do mundo perceptível (o mundo fenomenal): nosso próprio corpo! O corpo é um objeto material. Existe no tempo e no espaço. E nós temos um enorme e rico conhecimento do corpo que não vem através da percepção e da conceituação, mas de dentro, dos sentimentos.

Adquirimos um conhecimento através do corpo que não podemos conceituar e comunicar porque a maior parte de nossa vida interior é desconhecida para nós. A vida interior é reprimida e não pode ser consciencializada porque conhecer a nossa natureza mais profunda (nossa crueldade, medo, inveja, desejo sexual, agressividade, egoísmo) seria um peso maior do que poderíamos aguentar.

O tema parece conhecido? Faz lembrar aquela velha teoria freudiana do inconsciente, do processo primitivo, do id, repressão, auto-ilusão?...

Como compreendemos essas forças inconscientes? Como fazemos com que elas se comuniquem entre si? É que, na realidade, embora não possam ser conceituadas, podem ser sentidas…

E o que penso eu?  A Lyra pensa que tem um qualquer defeito quimico que a faz consciencializar demasiado a sua vida interior!

Mas, na (minha) realidade, eu já não sei (de) nada…

Alguém por aí sabe?!

Eu..., sem rumo...
Lyra

domingo, 25 de novembro de 2012

Assim Falava Zaratustra

Zaratustra falava assim ao povo e hoje em dia o eco dessas palavras continua a mais actual das verdades:"É tempo que o homem cultive o germe da mais elevada esperança. Eu vo-lo digo: É PRECISO TER UM CAOS DENTRO DE SI, PARA DAR À LUZ UMA ESTRELA BAILARINA. Eu vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós" - (Nietzsche, 1979) -

Zaratustra falava assim ao povo e hoje em dia o eco dessas palavras continua a mais actual das verdades:"É tempo que o homem cultive o germe da mais elevada esperança. Eu vo-lo digo: É PRECISO TER UM CAOS DENTRO DE SI, PARA DAR À LUZ UMA ESTRELA BAILARINA. Eu vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós"

 - Nietzsche -

sexta-feira, 27 de julho de 2012

terça-feira, 6 de março de 2012

Estado de Fotografia



Estado de Fotografia

Estou morrendo
como morre uma foto
Sufocada num álbum
de recordações
O rosto já quase sem brilho
O mesmo sorriso amarelo
E aquele jeito bobo
de quem vive por viver.

Estou morrendo
como morre uma foto
Entre maus comentários
e olhos me perdi
Envelhecendo num mesmo gesto
Mecânico e descomprometido
Entrego diariamente
meu desejo de crescer.

Paralisei minha vida
que geme guardada
Matei minha busca
Fechei minha estrada
Vou dar meia volta
Pra recomeçar.
Eu não posso escorrer
pelo mundo
Vivendo por nada
Num eterno ESTADO
DE FOTOGRAFIA
Não tenho direito
de me acomodar

Paralisei minha vida
que geme guardada
Matei minha busca
Fechei minha estrada
Vou dar meia volta
Pra recomeçar...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Cansaço

Às vezes apetece-me desistir!!!

Às vezes não entendo como consigo viver assim...Uma vida igual todos os dias...
Todos os dias são matemáticos, cansativos, sem sal nem sumo!
Acordar, tratar do rebento, trabalhar, buscar rebento, passear a cadela, dar banho ao banho, fazer comida, lavar a loiça, dar comida à gata e à cadela, arrumar um pouco da desarrumação do dia anterior, ver 5 minutos de televisão desinteressante ou ir à internet, aos mesmos sítios que vou todos os dias e cama que amanhã à mais disto.

Estou farta! O que me faz continuar? O rebento e o maridão: o amor e preocupação por eles...mais nada. São eles que me fazem andar em frente e passar os dias cinzentos à espera do Sol. O pior é que, às vezes, mesmo quando o Sol aparece...não chega para recuperar dos dias cinzentos.

O estado de confusão mental é tão grande que só me apetece entrar pelo mar a dentro e ir sempre em frente!

Tenho plena consciência de que se não tivesse esse mar..., se não tivesse vindo viver para este cantinho do céu, já teria desistido!!!

Sim, eu sei que tenho sorte e tenho (quase) tudo para ser feliz, aliás é também esse pensamento que me mantém, mas aquele "quase" é tão forte!!! O quase chama-se falta de dinheiro, mais falta de equilibrio mental e emocional...

E de repente a alegria e entusiasmo de ter, em tempos de plena crise, arranjado emprego, desvanece-se entre a rotina de um trabalho que ainda não domino (tenho medo de nunca dominar) e que me castra a liberdade . Mas, no meio de tudo isto sei que me devia dar por feliz...sim eu sei. Mas também sei que sou fraca e estou farta de ser fraca!!!

Queria tanto ser LIVRE!! De horários meus e dos outros, de obrigações, de tempestades e emoções...

Queria apenas entrar pelo mar dentro e ir sempre em frente, sem olhar para trás e sem nunca parar de andar...Nem para isso tenho coragem.

Não tenho tempo sequer para pensar...e quando o tenho fico assim...cheia de vontade de desistir. E a confusão mental apodera-se de mim... Porquê?

Depois, no meio de isto tudo, oiço o meu rebento a cantar e tudo me parece fazer sentido...Lá fora está Sol...Ele brinca e ri com a nossa gatinha...Lindo menino!!!

Mas não chega!

Muitas são as vezes que sinto que são pequenas coisas como um "lá-rá-rá-lá-rá" do meu filho que fazem a vida valer a pena e esse pensamento leva-me a continuar...aqui...neste remoer...e sinto-me como se estivesse a andar em frente e de repente olho para baixo e os meus pés estão no mesmo sítio e não avancei nem um milimetro. Onde estará a ilusão de andar em frente? Na realidade ou na minha cabeça?

Porque tudo me parece um fardo TÃO GRANDE quando tenho tempo para pensar?

Será que a falta do meu amor ao pé de mim (foi trabalhar para Moçambique 3 semanas e falta 1 para voltar), me tolhe as ideias. Será que é isso que hoje, num dia de Sol radiante, me faz estar deprimida desta maneira?

Porque há alturas em que sou tão forte e levo o barco para a frente com determinação e a certeza de que tudo correrá bem, e há outros que me apetece simplesmente fugir...andar pelo mar dentro e não olhar para trás...

Estou cansada de tanta inconstância, estou cansada da obrigação de estar viva!

Estou farta de, para viver, ter de fazer comida, lavar loiça, trabalhar em algo que não se..."vê"..., lavar roupa, estendê-la, recolhê-la, tomar banho, ter que andar vestida, ensinar filho, ensinar cadela, arrumar roupa, limpar tudo, ter terríveis saudades do maridão e vira o disco e toca o mesmo...Odeio o quotidiano e, no entanto, não me imagino sem ele...

Com o meu amor aqui tudo parece diferente...embora estes pensamentos sejam recorrentes mesmo com ele aqui! Sempre o foram desde que me lembro de existir. Como me livrar desta "praga"?

Às vezes apetece-me MESMO desistir, entrar no oceano e não olhar para trás!