sábado, 29 de março de 2008

Do Hedonismo

A palavra hedonista vem do grego, edone, que significa prazer.
A meu ver, hedonismo é uma doutrina que defende que o prazer é o meio correcto para atingir o objectivo supremo do homem, a felicidade, felicidade essa que tem como essência precisamente o prazer. A moral, para o hedonista, deve ser ordenada segundo o modelo que é dado pela busca do prazer. É considerado moral tudo aquilo que dê prazer e imoral tudo o que faça sofrer. Esta doutrina resulta da observação de que todos os seres buscam o prazer e tentam escapar ao sofrimento. Mais do que viver em busca do prazer, ser hedonista é conseguir encontrar esse prazer nas mais pequenas coisas. É preciso gostar de gostar! O hedonismo é um hino à vida, à felicidade e à beleza como finalidade da vida humana, uma forma geradora de mudanças, uma forma de sair de uma existência letárgica, monótona e não criadora. Incita-nos à busca da felicidade, não de uma felicidade comum, mas de uma felicidade criadora, uma felicidade que nos leve aos limites da nossa imaginação. Uma felicidade e um prazer que pressupõe uma preocupação com o outro, uma felicidade pessoal que implique a felicidade dos outros. Ser hedonista é querer ser livre , é ver a vida com todas as suas cores e buscar a beleza em todas as coisas, desde as grandes obras de arte à mais simples flor.

Podemos dizer também que Hedonismo é a arte de ser, não a de ter. E a arte de ser é a sabedoria ascética do despojamento: não se cobrir de honras, de dinheiro, de riquezas, de poder, de glória e outros falsos valores ou virtudes, mas preferir a liberdade, a autonomia, a independência. A escultura de si é arte dessa técnica de construção do ser como uma singularidade livre...

Tenho saudades do imenso prazer que é ir livremente, de mão dada, ver as estrelas e a lua dourada!

quinta-feira, 27 de março de 2008

A vida é...

Perdição que molha a boca logo ao amanhecer. Sensações que o viver é como um fio ténue e desencapado que pode, a qualquer hora, ser fragilizado.

A vida é uma aventura, um filme que se desenrola e constrói na frente dos olhos. Um horizonte que se vai alargando à medida que o homem sonha e deseja realizar... É como tomar banho de mar debaixo das estrelas sem medo da escuridão. É tactear com a mão o próprio destino que, em silêncio, às vezes, rasteja debaixo dos pés tentando mostrar novos caminhos e trilhas... Uma canção para um coração que ainda está a aprender a falar, a balbuciar palavras.

Um coração viajante pergunta-se sempre onde ir, o que fazer e porque viver se o amanhã ainda nem existe? Mas ter coragem é conhecer os intrínsecos e majestosos enredos da victória, de sorrisos compartilhados, de abraços bem dados, da poesia que nasce no raiar do dia, quando tudo ainda é improviso...

A vida é assim... Mas o que conforta o olhar de um sonhador é que nada é para sempre, nem a semente e, nem tão pouco, a dor. Tudo pode ser revertido em aprendizagem, em amor e nada é tão longo e nem tão breve ao ponto de vencer a força de uma exclamação. As vírgulas sempre existirão para brindar a respiração que anseia pela continuação, pela vida...

Curem-se as feridas sorrindo e imaginando que o nada pode ser o tudo do que ainda está por vir...

Marés de Neptuno

Quando no meu Mar marés altas de anunciam,
num fluxo periódico, sistemático e repetido -
na atracção Universal de corpos celestiais -,
e as águas se elevam e já são braços,
e logo níveas asas liquefeitas,
no esvoaçar incessante de gaivotas,
buscam-se margens, tal amarras.

E do seu centro, abismo, mar imenso, paul escuro,
uma claridade se alteia,
não tenho mais certezas, nem sagradas verdades,
que do imo do verdes das águas, refulgente,
um coração explode, bate desmedido, sente.
E contra forças centrípetas faz de leme
e do frágil sonho o seu remo...
Faial - Açores: a terra que mais amo!

Fotografia de José Henrique de Azevedo (Peter)

Fractal Poetry

water:

chance, fate, choice,
mathematics, ghosts,

& love sweeter than young lovers dreams

the sacred turquoise & golden filligree

are my banner forever more
the ocean beckons me...

come home, come back...
to me, my love, my,
sacred dove, my,
perfect glove, the,
heavens above open
like the half-pearled
gates of mystery.

come home to me, she sang
& the wayward love of
Persephone chided him
& he
wept the tears of
the oceans' storm,

and bawled a boxing day tsunami



Christ, Poseidon, Neptune,

the fallen lovers quarrel
until the end of the world
is nigh, then the twins
can somehow rescue
I
by the tale of Pollux & Castor,
for they are not themselves twins,
but Pollux's twin sister,
Hellen of Troy,
& the twin of Castor,
sweet Clytemnestra,

were twins within twins

so how did the ancients know
that Pollux itself is a twin star?

and Castor
is a pair of twins too

with another set of twin red dwarf stars,
mostly feint & hidden, far
snuggled in the distance

their names are Leda, the mother of this brood,
and, the old Cuckold himself, False Zeus
who most likely
in the courts of Olympus
was by the Spartan, Tyndareus, sued.

Hera, I weep with thee,
on perfect crescent moonlit
nights,

Allah save us from
the fickle flirts that destroy
the might of Kings

with honeyed skies,
with wine & skirts,
tempting, teasing,
large black eyes,

no mere warrior's sword
can inflict such fatal hurts
as broken lovers word;
she lies... she lurks.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Subversão

"Deveríamos evitar corrigir um detalhe de uma imagem fractal com um comando local" - Benoit Mandelbrot

Assim como na música, não se resolve um erro de execução de um trecho tocando-o novamente. Será outra música. Que seja. Se for a mesma música, terá que ser tocada novamente, por inteiro. Toda a revisão de conhecimento coloca em questão todo o conhecimento em si, assim como qualquer introdução, apresentação, prefácio, posfácio, defesa, argumentação tudo altera: o quebra-cabeças de deslizar peças sem ninguém que o resolva senão as próprias peças; o labirinto de paredes movediças, em que Teseu é pedreiro e o Minotauro, demolidor, em que Dédalo é o fio que Ariadne enrolou, e em que Ariadne são as asas com que Ícaro se libertou...

Na mitologia Grega existe uma história da qual gosto particularmente: a de Ícaro:

Conta a mitologia que Ícaro conseguiu escapar do labirinto em que tinha sido fechado pelo furioso Minos, usando umas asas feitas de penas que fixou às costas com cera. Dédalo, o seu pai, tinha-lhe recomendado que não voasse demasiado alto para não despertar a ira dos deuses nem demasiado baixo para evitar a vingança dos homens. O seu orgulho, contudo, impeliu-o à desobediência: embriagado pelo poder que lhe proporcionavam as suas asas aproximou-se tanto do Sol que a cera se fundiu e o imprudente precipitou-se no vazio.

Mas o que a mitologia não contou foi que Ícaro, olhando para o Sol, percebeu que não queria viver obedecendo a Dédalo e seguindo ambições que não eram suas. Então, mergulhou no imenso mar que o libertou…

Preciso de um mergulho libertador assim, sem correcção na sua direcção. Quero libertar-me das amarras da rotina - que é um erro de execução da vida - e seguir os meu sonhos, que irão até onde os olhos do meu amor me levarem!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Loucura


Como me tornei louca?
Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia
confeccionado e usado em sete vidas -
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns
correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado,
uma criança que tinha trepado ao telhado de uma casa gritou:
"É uma louca!".

Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais as minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:
"Benditos, bendito os ladrões que
roubaram as minhas máscaras!"

Assim me tornei louca.

E encontrei tanto liberdade
como segurança na minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendida, pois aquele desigual que nos
compreende escraviza alguma coisa em nós…


Fractal mask

Liberdade

Desde a minha adolescência que andava com um pequeno papelinho, na carteira, onde estava escrita uma frase que retirei não sei quando nem de onde:

Sentia que esta frase era a minha "cara".

Hoje, quando descobri que o autor foi Che Guevara, fui procurar o papelinho e não o encontrei...
Onde está essa minha "cara" embuída de Liberdade? Terei eu, entretanto, enlouquecido?

terça-feira, 18 de março de 2008

Escrever

"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto."

- Fernando Pessoa -

segunda-feira, 17 de março de 2008

Holopoesia

O holopoema é o poema concebido, realizado e apresentado holograficamente. Isto implica dizer, a princípio, que ele se organiza no espaço tridimensional e, à medida que o leitor o observa, transforma-se e dá origem a novos significados. Assim, ao ler o poema no espaço, ou seja, ao caminhar ao redor do holograma, o observador modifica constantemente a estrutura do texto.
O holopoema não é um poema em versos transformado em holograma nem um poema concreto ou visual adaptado para holografia. A estrutura sequencial do verso corresponde ao discurso linear, enquanto a estrutura simultânea do poema concreto ou visual corresponde ao raciocínio ideográfico. O poema em versos, impresso no papel, estabeleceu a linearidade do discurso poético enquanto o poema visual inventou a liberdade das palavras na página.

A "nova" poesia holográfica começa nos anos 80 por libertar a palavra da página — através de um sistema passível de reprodução em série. Diferente do poema visual, ela pretende corresponder à descontinuidade do pensamento, ou seja, a percepção do holopoema não vai se dar linear nem simultaneamente e sim através dos fragmentos vistos aleatoriamente pelo observador conforme seu posicionamento em relação ao poema. A percepção no espaço de cores, volumes, transparências, mudanças de forma, posições relativas entre objetos, surgimento e desaparecimento de formas é indissociável da percepção sintática e semantica do texto. A cor não é só cor, ela também tem função poética: a letra não é só letra, é também forma pictórica. Se compararmos os elementos da linguagem com as noções da geometria euclideana, poderíamos pensar as letras como pontos, as palavras e as frases como retas e os textos visuais como planos. Assim, as letras teriam dimensão igual a zero, as frases teriam dimensão igual a um e os textos visuais teriam dimensão igual a dois. Por extensão, o holopoema, ao retirar o texto da página e ao lançá-lo no espaço, teria dimensão igual a três.
Mas o holograma não precisa ser necessariamente tridimensional, pois a geometria fractal revela-nos a existência de dimensões entre as de número 1, 2, 3 e 4 — e oferece-nos os instrumentos (softwares) para a criação de imagens com dimensões fracionárias: os fractais ensina-nos a aceitar a fração, a passagem entre duas dimensões como um novo valor em si. Trabalhar com fractais holográficos é gerar imagens holográficas de dimensão diferente de 3 ou, em outras palavras, fazer hologramas que não sejam tridimensionais.

Em matemática, ser um fractal significa, a princípio, estar entre uma determinada dimensão e outra (de número maior ou menor). Em arte, ser um fractal pode significar, por analogia, estar entre a dimensão verbal e a dimensão visual do signo. Levando adiante uma comparação, poderíamos tentar pensar uma linguagem — em movimento, em transformacão no espaço-tempo — que seja esta passagem entre o código verbal (a palavra) e o código visual (a imagem). Talvez a experiência estética, em sentido genérico, ou a experiência poética, em sentido estrito, possam ser enriquecidas se o observador-leitor estiver diante de um texto que se potencialize em imagem e diante de uma imagem que se potencialize em texto em um processo reversível.

The Pillow Book - Sei Shonagon

“Trate-me como as Páginas de um Livro”

A pele mais adequada para ser escrita deve ser muito clara, talvez a de um corpo cujo cabelo bem escuro sugira o brilho da tinta preta.
Especula-se sobre uma fantasia erótica que combina duas fascinações sem limites: o corpo e a literatura.

"O Livro de Cabeceira" de Sei Shonagon é uma obra da literatura clássica japonesa, escrita há mil anos por uma dama-da-corte imperial. É um elegante e refinado diário, feito com engenhosidade e muita inteligência por uma mulher sensível e de forte caráter. O diário, tal como outros diários do mesmo tipo (este não era o único existente), era guardado dentro da gaveta de um travesseiro de madeira, sobre o qual a autora encostava sua cabeça durante a noite. O filme diz respeito a uma moderna Sei Shonagon, que vive nos anos 90 em Hong Kong. E essa história passa, certamente, por uma grande reviravolta.

Essa Sei Shonagon contemporânea é passional, ao ponto de abandonar tudo pela literatura, pelas palavras, pela escrita, pelos escritores, poetas e homens de letras. Ela mantém um armário em sua casa, um grande armário europeu do século XVIII. Mas dentro não há nenhum papel . O seu corpo é o papel.

Essa mulher tem vinte, talvez vinte oito, ou mesmo trinta anos, mas não menos. Ela é bonita. É alta. Tem um corpo ideal para modelar roupas. É uma exilada do Japão, com uma história pessoal marcada por uma educação primorosa. Dona de uma sensibilidade refinada, é afeita à tradição de decorar o corpo com tatuagens e cosméticos, e à literatura que, através da caligrafia, se constitui um meio caminho para a pintura. Neste momento, vamos supor que essa mulher vem de Kioto, cidade da própria Sei Shonagon. O seu nome é Nagiko, o mesmo que alguns historiadores pensam ser o nome familiar de Sei Shonagon...




Livro e Filme imperdíveis!!!

Tanka


"Quando penso em ti,
erguem-se pirilampos nos brejos
como as jóias da alma,
perdidas para o eterno anelo
abandonando o meu corpo"


- Izumi Shikibu -



Izumi Shikibu (970-1030 d.C. ) é uma das mais importantes figuras da Literatura Japonesa. Ela viveu no Kyoto e era dama de companhia oficial da imperatriz. Casou muito nova, mas escandalizou a corte quando abandonou o seu marido para se tornar amante de um dos filhos da imperatriz. Quando, uns anos depois, o príncipe morreu, ela teve uma série de amantes antes de se casar pela segunda vez.

Ela era uma rebelde social e determinada a viver intensamente a sua vida. E, tal como na sua vida pessoal, a poesia de Shikibu é um misto de eros e de um profundo conhecimento vindo da prática da meditação budista.

Aqui fica mais um lindissímo poema Tanka (poema em cinco linhas com 31 sílabas, distribuídas em 5-7-5-7-7) desta fantástica autora:

“Se esse que esperei
viesse ainda, o que faria?
Este jardim cheio de neve
é demasiado belo
para ser pisado agora.”

sexta-feira, 14 de março de 2008

Canção da Gueixa

"Tu e eu vivemos no interior de um ovo e eu,
eu sou a clara envolvo-te
e embalo-te dentro do meu corpo"
Canção de uma gueixa anónima
* * *
"Para punir os homens pelos seus pecados,
Deus fez-me esta pele macia
deu-me estes longos cabelos negros"
Yosano Akiko, 1878-1942
* * *
"Esta noite sonhei
Que empunhava uma espada contra o meu corpo nu.
Que significará?
Que em breve estaremos juntos"
Kasa no Iratsume, XVIII D.C.

Taoísmo

Tao ?

O Yin e o Yang na natureza?

terça-feira, 11 de março de 2008

Ao meu amor pequenino

Conforme prometido: da mamã para o Gonçalo com muito amor!!!
Este coração é todo para ti! Eu amo-te meu querido!

Nos dias de hoje a turbulência está instalada de vez: é o fim das certezas, pequenas causas gerando grandes efeitos, imprevisibilidade, mudanças aceleradas e o novo a cada instante. Assistimos agora às certezas dos fundamentalistas religiosos, radicais de todas as matizes. Um capitalismo insensível, aliado às certezas de posições políticas radicais. Vivemos uma grande instabilidade, hoje inevitavelmente globalizada.
Para enfrentar este cenário, soluções antigas têm-se mostrado inócuas, superadas. Precisamos encontrar criativamente novas soluções, pois os problemas, ainda que antigos, revestem-se de novas configurações, acrescidos de novos acontecimentos e acelerada transformação.

Ora, ao observar as crianças, que desde o nascimento até a adolescência enfrentam o novo e o imprevisto a cada momento, que correm riscos, encaram dificuldades, mas caminham sempre para frente, podemos recolher um material precioso que poderá servir-nos como modelo para desenvolver nossas "atitudes adultas" diante da actual turbulência. Por quê não nos inspiramos nas crianças? Com o que as crianças contam para transpor barreiras e avançar? Que recursos elas têm desde o nascimento para crescerem e desenvolverem-se, para enfrentarem e sobreviverem num mundo totalmente desconhecido e imprevisível para elas? Elas contam basicamente com suas potencialidades inatas, principalmente os sentidos, que são os meios pelos quais se comunicam com o mundo exterior e interior. É através dos órgãos dos sentidos que a criança vai perceber o mundo e reagir a ele.

* A visão está sempre atenta e curiosa, cada vez mais aguçada à procura de formas, cores e movimentos.
* Pela audição os sons penetram e são captados em todas suas nuances, mesmo que a capacidade de traduzi-los por palavras ainda não esteja desenvolvida.
* O olfato vai se apurando e os aromas são percebidos nas suas diversas matizes.
* O paladar é o sentido que a criança exercita como ninguém, recusando com ênfase certos sabores e degustando outros com um prazer que atinge o corpo todo, integrado e uno.
* Único sentido presente ao longo do corpo todo, o tacto capta calor e frio, aspereza e suavidade, dureza e maciez, numa infinita gama de sensações cinestésicas.

Além dos sentidos, a criança também conta com a imaginação. Tão fértil nas crianças, a imaginação é uma capacidade que a educação clássica não tem estimulado e que muitas vezes fica de fora do mundo adulto. No entanto, o "faz de conta", é a fonte principal do brincar e do criar: tudo que foi criado, foi antes imaginado.

As emoções e os sentimentos, sempre presentes ao longo do corpo, interiorizado, às vezes exteriorizados.

A intuição, fruto do seu DNA e de sua curta história é também sua potencialidade, aliada a total integração corpo-mente, ou melhor, não desintegrados ainda, a uma flexibilidade natural e a reflexos para responder rapidamente a quaisquer estímulos.

São esses os recursos que devemos resgatar da nossa criança, qualquer que seja o meio em que estejamos inseridos: nas organizações, na família, no meio social, cultural, etc. Ser criança não é ser infantil, nem infantilizar o comportamento de maneira caricata. Ser criança é utilizar plenamente todas as nossas potencialidades inatas que por diversos motivos foram adormecendo ao longo da vida. Ser criança é estar diante das coisas como se fosse pela primeira vez, permitindo-se mergulhar no estranho e desconhecido, podendo fazer as perguntas mais ingénuas e "descabidas" e podendo reagir às situações de modo espontâneo, descomprometido e livre.

Ser criança é deixar-se penetrar pelo mundo através dos sentidos, sem pressa para dar respostas, sem fugir das perguntas e sem colocar o julgamento crítico em acção cedo demais. É poder simplesmente e, num primeiro momento, perceber, sentir e imaginar.

É com isso que contaremos para enfrentar um mundo turbulento e imprevisto, violento, hostil e competitivo, hoje e como sempre, injusto e desigual. E para isso, ser criança e optimista realmente facilita.

E agora, só para ti Gonçalo, SeuOrkut.com.brum site que tem um programa que faz desenhos malucos e com muuuuuitas cores. Mas és tu quem comanda as cores, o número de linhas e outras opções. Cuidado para não perderes o dia todo a brincar aqui... ah, e aproveita para ir aqui e aqui também ehehehe, vais adorar e vamos divertir-nos imenso, boa?

sexta-feira, 7 de março de 2008

Happy Birthday

Muitos Parabéns meu amor!!!

Agora é altura de abrires o teu presente.
Prendas de metal e vidro gastam-se
num dia e desaparecem. Tenho uma prenda
melhor para ti.

É um anel que tu podes usar.
Cintila com uma luz especial e ninguém
o pode roubar; não pode ser destruído.
És a única pessoa do mundo
que pode ver o anel
que te dou hoje, tal como eu era
a única que o podia ver,
quando era meu.

O teu anel dá-te um novo poder.
Quando o usares, podes subir nas asas
de todos os pássaros que voam -
podes ver pelos seus olhos dourados,
acariciar o vento que sopra através
das suas penas de veludo,
conhecer a alegria de te elevares sobre o mundo
e as suas preocupações. Podes ficar
no céu todo o tempo que quiseres,
tanto durante a noite como durante a alvorada;
quando quiseres voltar cá abaixo,
as tuas perguntas terão resposta
e as tuas preocupações terão desaparecido.

Como tudo o que não pode ser tocado
pela mão, nem pode ser visto pelos olhos,
o teu presente tornar-se-á mais poderoso
à medida que o fores usando.
A princípio só conseguirás utilizá-lo
quando estiveres ao ar livre e vires
o pássaro com quem voas. Mas mais tarde,
se o usares bem, funcionará mesmo
com pássaros que não consigas ver
e finalmente descobrirás que não tens necessidade
do anel nem do pássaro para os teus voos
solitários sobre o silêncio das nuvens.
Quando esse dia chegar, deves dar a tua prenda
a alguém que a use bem e que compreenda
que as únicas coisas que contam
são as coisas feitas de verdade
e de alegria e não as de metal
e de vidro.

Cada prenda é uma esperança
na tua felicidade; assim é este anel.

Voa, livre e feliz, para além de aniversários,
através da eternidade e encontrar-nos-emos
de vez em quando, sempre que quisermos,
no meio da única festa que nunca poderá terminar.

Muitas Primaveras

"Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se eu soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã."

- Alberto Caeiro -
Dedicado a ti: a pessoa que mais Amo, porque haverão muitas primaveras....

terça-feira, 4 de março de 2008

A razão de amar é o amor...

"Não te esqueças de que a tua frase é um acto. Se desejas levar-me a agir, não pegues em argumentos. Julgas que me deixarei determinar por argumentos? Não me seria difícil opor, aos teus, melhores argumentos. (...) Para fundar o amor por mim, faço nascer em ti alguém que é para mim. Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim. Não te farei censuras: elas irritar-te-iam justamente. Não te direi as razões que tu tens para amar-me, porque não as tens. A razão de amar é o amor. Também não me mostrarei mais, tal como tu me desejavas. Porque tu já não desejas esse. Se não, amar-me-ias ainda. Mas educar-te-ei para mim. E, se sou forte, mostrar-te-ei uma paisagem que fará de ti meu amigo."

Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

Contrapunctus

Creio que é frequente apetecer, fugir, desaparecer, querer estar e ser outra coisa mas, seria tudo realmente diferente?

Imagina uma ilha, uma ilha imensa e de natureza abundante. Imagina que essa ilha não tem dono nem lei e portanto não exige nada em troca para que vivas nela.

Agora imagina que nasceste e cresceste num lugar que é o oposto disso, com donos e com leis aos quais só com dificuldade te adaptas. Na ilha em que nasceste não passas de um detrito e a tua vida assim não poderá ser diferente da reincidência do fracasso, já que para viver aí tens de tentar viver como não queres.

Em qual das ilhas vais querer habitar?

E se então, ao chegares à primeira ilha, aberta e livre, perceberes que aos poucos todas as pessoas inadaptadas vindas das mais diversas outras ilhas estão também a vir para cá, na esperança de viverem em paz. E se aos poucos todos vocês percebessem que essa paz é na verdade completamente diferente no entender de cada um desses desajustados?

Como é que essas pessoas poderíam viver juntas?

Agora imagina as consequências. Iniciou-se aí a mesma luta de poder que repeliu todos nas ilhas de origem, onde cada indivíduo ou grupo resolveu lutar pela sua ideia particular de paz. Imagine que muitos donos surgiram e que leis de todas as partes foram transplantadas na tentativa de organizar a ilha.

Imagina que, com o tempo, a ilha se desenvolveu e a população se multiplicou, tornando a guerra perpétua. Imagina que essa ilha é aqui...

Bach - "Art of fugue - Contrapunctus01"

A melodia do Mar


Se fecharmos bem os olhos e esvaziarmos o pensamento conseguimos ouvir a melodia resultante do "murmúrio das ondas do mar", que apresenta também características fractais: sempre aparentemente aleatória mas com um efeito de conjunto agradável, onde qualquer parte é semelhante ao todo, sem nunca saturar, mesmo quando ouvida durante horas, dias ou anos seguidos...