terça-feira, 4 de março de 2008

Contrapunctus

Creio que é frequente apetecer, fugir, desaparecer, querer estar e ser outra coisa mas, seria tudo realmente diferente?

Imagina uma ilha, uma ilha imensa e de natureza abundante. Imagina que essa ilha não tem dono nem lei e portanto não exige nada em troca para que vivas nela.

Agora imagina que nasceste e cresceste num lugar que é o oposto disso, com donos e com leis aos quais só com dificuldade te adaptas. Na ilha em que nasceste não passas de um detrito e a tua vida assim não poderá ser diferente da reincidência do fracasso, já que para viver aí tens de tentar viver como não queres.

Em qual das ilhas vais querer habitar?

E se então, ao chegares à primeira ilha, aberta e livre, perceberes que aos poucos todas as pessoas inadaptadas vindas das mais diversas outras ilhas estão também a vir para cá, na esperança de viverem em paz. E se aos poucos todos vocês percebessem que essa paz é na verdade completamente diferente no entender de cada um desses desajustados?

Como é que essas pessoas poderíam viver juntas?

Agora imagina as consequências. Iniciou-se aí a mesma luta de poder que repeliu todos nas ilhas de origem, onde cada indivíduo ou grupo resolveu lutar pela sua ideia particular de paz. Imagine que muitos donos surgiram e que leis de todas as partes foram transplantadas na tentativa de organizar a ilha.

Imagina que, com o tempo, a ilha se desenvolveu e a população se multiplicou, tornando a guerra perpétua. Imagina que essa ilha é aqui...

Bach - "Art of fugue - Contrapunctus01"

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