O holopoema é o poema concebido, realizado e apresentado holograficamente. Isto implica dizer, a princípio, que ele se organiza no espaço tridimensional e, à medida que o leitor o observa, transforma-se e dá origem a novos significados. Assim, ao ler o poema no espaço, ou seja, ao caminhar ao redor do holograma, o observador modifica constantemente a estrutura do texto.
O holopoema não é um poema em versos transformado em holograma nem um poema concreto ou visual adaptado para holografia. A estrutura sequencial do verso corresponde ao discurso linear, enquanto a estrutura simultânea do poema concreto ou visual corresponde ao raciocínio ideográfico. O poema em versos, impresso no papel, estabeleceu a linearidade do discurso poético enquanto o poema visual inventou a liberdade das palavras na página.
A "nova" poesia holográfica começa nos anos 80 por libertar a palavra da página — através de um sistema passível de reprodução em série. Diferente do poema visual, ela pretende corresponder à descontinuidade do pensamento, ou seja, a percepção do holopoema não vai se dar linear nem simultaneamente e sim através dos fragmentos vistos aleatoriamente pelo observador conforme seu posicionamento em relação ao poema. A percepção no espaço de cores, volumes, transparências, mudanças de forma, posições relativas entre objetos, surgimento e desaparecimento de formas é indissociável da percepção sintática e semantica do texto. A cor não é só cor, ela também tem função poética: a letra não é só letra, é também forma pictórica. Se compararmos os elementos da linguagem com as noções da geometria euclideana, poderíamos pensar as letras como pontos, as palavras e as frases como retas e os textos visuais como planos. Assim, as letras teriam dimensão igual a zero, as frases teriam dimensão igual a um e os textos visuais teriam dimensão igual a dois. Por extensão, o holopoema, ao retirar o texto da página e ao lançá-lo no espaço, teria dimensão igual a três.
Mas o holograma não precisa ser necessariamente tridimensional, pois a geometria fractal revela-nos a existência de dimensões entre as de número 1, 2, 3 e 4 — e oferece-nos os instrumentos (softwares) para a criação de imagens com dimensões fracionárias: os fractais ensina-nos a aceitar a fração, a passagem entre duas dimensões como um novo valor em si. Trabalhar com fractais holográficos é gerar imagens holográficas de dimensão diferente de 3 ou, em outras palavras, fazer hologramas que não sejam tridimensionais.
Em matemática, ser um fractal significa, a princípio, estar entre uma determinada dimensão e outra (de número maior ou menor). Em arte, ser um fractal pode significar, por analogia, estar entre a dimensão verbal e a dimensão visual do signo. Levando adiante uma comparação, poderíamos tentar pensar uma linguagem — em movimento, em transformacão no espaço-tempo — que seja esta passagem entre o código verbal (a palavra) e o código visual (a imagem). Talvez a experiência estética, em sentido genérico, ou a experiência poética, em sentido estrito, possam ser enriquecidas se o observador-leitor estiver diante de um texto que se potencialize em imagem e diante de uma imagem que se potencialize em texto em um processo reversível.
9 comentários:
Acredito que se sinta da mesma maneira.
Obrigada pela vizita e volte sempre!
Rendo-me. Tudo isto, para mim, está muito há frente! Eu, como barrista, nunca lá chegarei. Mas atenção, nós todos é que sabemos tudo.
Beijinhos das Caldas
Concordo! Somos todos partes fractais de um universo uno e caótico...
:O)
"ser um fractal significa, a princípio, estar entre uma determinada dimensão e outra"
Afinal quantas dimensões nos Circundam? Haverá alguma noção real?
Hum, tanto quanto sei já se vai em 11 dimensões...
E este é, sem dúvida, um tema interessantissimo!
Bom fim-de-semana
;O)
Como eu aprendo a fazer esse holopoema? Você tem alguma noção?
Enviar um comentário